Em Gaza, jovem médico salva vidas e conta as vítimas dos bombardeios

O doutor Belal Dabour parece jovem, mas sua voz soa cansada. Por telefone ele conta, entre turnos dobrados no maior hospital da Faixa de Gaza, Al-Shifaa, sobre as condições do seu trabalho. No início da conversa, antes de qualquer pergunta, ele lista as vítimas palestinas dos bombardeios israelenses: “O número total de vítimas fatais é 860, são 5.500 feridos e 76 pessoas morreram até as 23h00 de hoje,” sexta-feira (25).

Por Moara Crivelente | Portal Vermelho

O hospital Al-Shifaa, no oeste da Cidade de Gaza, ainda não foi diretamente atingido pelos bombardeios, garante o médico, que trabalha no pronto-socorro, atendendo os milhares de feridos e recebendo os corpos das vítimas fatais.

“Estamos em alerta de nível A,” continua Belal, “o que significa que os funcionários do hospital serão divididos em equipes que trabalharão por 24 horas e descansarão outras 24 horas, porque o número de vítimas tem aumentado.” O maior hospital de Gaza está abarrotado, já que é aquele que possui centros de especialidades. “A equipe médica está sobrecarregada e a situação é péssima.”

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Entre um turno e o próximo, Belal alimenta as redes sociais com imagens, números e desabafos; seus perfis no Twitter e Facebook já têm milhares de seguidores.

Para fazer frente à cobertura midiática majoritariamente tendenciosa e dar suas próprias notícias ao mundo, os palestinos têm recorrido à Internet, embora em Gaza a eletricidade só seja acessível por cerca de três horas ao dia. Na semana passada, Belal publicou um artigo no portal Electronic Intifada intitulado “O menino que se agarrava ao paramédico: a história por trás da foto”, sobre a imagem de uma criança ferida e apavorada que circulou a rede.

O jovem médico explicava como foi receber no hospital, às 03h00 da madrugada, quatro irmãos pequenos, por volta de três anos de idade, que tinham sido retirados de baixo dos escombros da sua casa. Ele também deu uma entrevista à rede Democracy Now para contar sobre as condições na Faixa de Gaza, nesses últimos dias catastróficos.

Ao Vermelho, Belal conta que Al-Shifaa ainda está intacto, mas bombardeios atingiram algumas casas a cerca de 400 metros, no início da semana. Já o hospital Mohammed Dura, que atendia crianças, não escapou: as explosões de edifícios vizinhos desestruturaram o local, estilhaçando vidros e destruindo o telhado, forçando os funcionários a evacuarem e fecharem o hospital.

Belal escreve no Twitter, após um turno no hospital: “Uma baixa chega ao hospital. O doutor
descobre que é o seu filho martirizado. Ele tira uma última foto.”

Ao deixar os “relatos”, algo que o doutor tem feito bastante nos últimos dias, ele lembra: “em dois dias deveríamos celebrar o fim do Ramadã, o Eid al-Fitr…” a conclusão de um mês sagrado para os muçulmanos, de jejum, prática que constitui uma das importantes bases do Islã. “Mas se isso continuar, não haverá celebrações; as pessoas aqui esperam que isso acabe logo.”

Pergunado sobre sua própria experiência, Belal disse: “Bem, devido às circunstâncias, temos que dar conta com o que temos, sacrificamos nosso tempo, até a nossa saúde, porque é esse o trabalho dos médicos, é o que temos que fazer.” Faltam medicamentos e equipamentos, “a cada dia que passa, a situação é pior,” afirma o jovem médico. Cerca de 200 das vítimas fatais dos bombardeios israelenses são crianças e as Nações Unidas calculam que quase 80% das 860 pessoas mortas eram civis.

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